quinta-feira, 9 de junho de 2011

Devaneios

No mundo, invariavelmente, há pessoas e pessoas; sendo, cada qual, diferente uma da outra; e é exatamente tal peculiaridade que traz graça a vida. E há pessoas que nascem mais agraciadas, por assim dizer, e as que nascem menos agraciadas. Muito provavelmente, as pessoas que nascem mais agraciadas possuem uma porção de coisas que as menos agraciadas não. Sob um contexto sociológico, há pessoas que possuem muito dinheiro e riqueza material; há pessoas que possuem sua “Brahma” no final de semana com seu churrasco na laje e assim felizes são; há pessoas que, apesar de “não ricas” – se é que me entendem – possuem inúmeras viagens, ora até pelo mundo todo; há as pessoas que possuem religiosidade extremada e tornam-se, por conscequência, extremistas; há as pessoas que possuem a espiritualidade aguçada; e, finalmente, há as pessoas que possuem a arte; e, para ser específico, que possuem a música em seu “dna intelectual”, por assim dizer. Música, mais do que no sangue, esta na alma de quem a verdadeiramente aprecia; e, da mesma maneira que por inúmeras vezes simplesmente não podemos nos tornar ricos ou ter em nosso currículo e memória inúmeras viagens pelo mundo e todo o conhecimento que, invariavelmente, isto nos trás, ninguém pode nos tirar a música e nossa enorme paixão pela mesma; isto não. Nos soa inadmissível, por exemplo, alguém que se diz gostar “de um pouco de tudo” na música; que vai desde “a músiquinha do gás até Zeca Pagodinho”; “fãs” de Beatles que acham que o beatle que se apresentou no Brasil este ano foi John Lennon; pessoas que, nos bares com música ao vivo, cantam a plenos pulmões o refrão de “have you ever seen the rain”, enfim. O que nós temos de precioso é saber “qual a melhor cozinha do funk / soul da história da música” (leia-se TOWER OF POWER); estar na entrada de um bar com música ao vivo e ter verdadeira obsessão por lá entrar, o mais rapidamente possível, para ver se o solo de guitarra de “Time” será executado corretamente tanto dentro da linguagem da própria música quanto dentro da identidade do guitarrista em questão; temos o inigualável prazer de escutar uma música na rádio por anos e, depois de extensa pesquisa histórico / musical, descobrirmos o nome da mesma e a ouvimos cerca de 2000 vezes na primeira semana e umas cinco ou seis no resto do ano; ou o enorme prazer de, pura e simplesmente, chegar em casa e ouvir a música que nos tortura em nossa cabeça o dia inteiro, sem poder aliviar nossos corações ouvindo-a em nossas tarefas diárias. Enfim. E, quando entro no mérito do que a música inteligente faz por nós, a disputa intelectual, se é que existe, pende ainda mais gritante à nosso favor. Temos muitas vezes a possibilidade de aprendermos outros idiomas sem a ajuda de cursos especializados para tal, pesquisamos a história para entendermos de-onde-vem-o-quê, aprendemos matemática para executarmos as mesmas em instrumentos musicais, aprendemos ciência quando pesquisamos sobre estes últimos e seus diferentes materiais, enfim. A lista aqui é interminável. Agora, a questão proposta para a reflexão: É melhor ser um alienado rico ou um intelectual, algumas vezes, pobre? É melhor ter a arte como essência ou ter viagens maravilhosas no currículo e se ouvir pagode, axé, aquilo-que-chamam-erroneamente-de-funk-carioca? Quem, afinal de contas, são as pessoas agraciadas e menos agraciadas neste caso? Eis a questão.

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