sábado, 5 de setembro de 2009

A Doce Canção

"Pus-me a cantar minha pena
com uma palavra tão doce,
de maneira tão serena,
que até Deus pensou que fosse
felicidade - e não pena.

Anjos de lira dourada
debruçaram-se da altura.
Não houve, no chão, criatura
de que eu não fosse invejada,
pela minha voz tão pura.

Acordei a quem dormia,
fiz suspirarem defuntos.
Um arco-íris de alegria
da minha boca se erguia
pondo o sonho e a vida juntos.

O mistério do meu canto,
Deus não soube, tu não viste.
Prodígio imenso do pranto:
- todos perdidos de encanto,
só eu morrendo de triste!

Por assim tão docemente
meu mal transformar em verso,
oxalá Deus não o ausente,
para trazer o Universo
de pólo a pólo contente!"



Por Cecília Meireles (L).



Nada contra os poetas romanticos do mal-do-século nem contra os simbolistas e até os parnasianos; mas em termos de poesia, os modernistas são realmente imbatíveis (vide Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes e afins).


Crazy Diamond.

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